sábado, 2 de novembro de 2013

Preconceitos Literários

Já faz um tempinho, a Tati Feltrin lançou uma polêmica através do blog e do canal no YouTube: Os preconceitos literários. Na verdade ela questionou a ideia (sugerida por alguém num vídeo de outro canal) de que é preciso ter "cacife" pra falar de literatura - ou certos tipos de literatura (no caso, em questão, a pessoa se referia especificamente ao "Ficando longe do fato de já estar meio que longe de tudo"). Eu gostaria de ter assistido o vídeo original, mas como a pessoa não autorizou a divulgação, a Tati acabou não mencionando quem foi a autora de tal pérola... Enfim. A questão do cacife ja foi largamente (e brilhantemente) discutida pela própria Tatiana aqui e por varias outras pessoas. Vocês podem, inclusive, dar uma olhada nos vídeos-resposta e/ou relacionados pra ver outras pessoas criticando essa ideia estranha.

Mas o que eu queria falar aqui é um pouquinho diferente. É sobre essas pessoas que acham que literatura moderna é lixo; que apenas os clássicos são bons de verdade, de modo que se recusam a "perder horas preciosas" de suas vidas lendo best-sellers atuais. Só que se esquecem (ou talvez nunca tenham sabido, por na verdade não serem assim tãããooo cultas quanto gostam de pregar - ou de acreditar) que muitos dos livros que figuram nas listas de "grandes clássicos" atualmente, foram, ne época de seus lançamentos, best-sellers! * (há! agora durmam com esse barulho!).

Não é que eu seja uma levantadora da bandeira de que "só porque é velho é chato/ruim", não... Sei bem dar aos clássicos seu devido valor. Mas, convenhamos, essa visão meio Frankfurtiana (nesse link tem uma explicação bacaninha sobre o que foi a Escola de Frankfurt e a Industria Cultural) de que tudo que é cultura de massa é ruim e só o que é erudito é bom já tá meio batida, né? Eu, sinceramente, não concordo com ideias no sentido de que só porque é best-seller não pode set edificante. E também não acho que quem lê apenas Kafka, Machado de Assis, Proust e Clarice Lispector seja necessariamente um ser humano melhor do que alguém que curte "literatura pipoca" (ouvi essa expressão da Clara, do "Capitu já leu?" e achei sensacional: é aquela coisa que "não tem nutrientes, mas é gostoso e enche a barriga"). Na minha opinião, julgar uma pessoa por aquilo que ela lê (ou deixa de ler) é uma das coisas mais bestas que se pode fazer... Sei lá, mas, pra mim, quem é culto/erudito/intelectual de espírito, não se importa com essas bobagens de "rótulos". Essa pessoa vai ler o que ela tem vontade, sem se importar com o que os outros vão pensar se souberem que ela leu - por exemplo - "Crepúsculo" e, principalmente, sem se importar com o que O OUTRO está lendo! Porque se você quer restringir seu conteúdo literário a determinados estilos, épocas e autores, isso é com você (tem gente que não curte mesmo, ué... e tem todo o direito de fazer essas escolhas com base no seu gosto pessoal)... Agora, querer determinar o que as outras pessoas devem ou não ler...? Socorro!!!
#IndexLibrorumProhibitorumfeelings
E, me desculpem se estiver enganada... Mas eu acho que, lá no fundo, essas pessoas que perdem tempo criticando as escolhas literárias alheias fazem isso como uma forma de recalcar sua própria vontade de ler uma bobagem ou outra de vez em quando. - Mas não pode, porque fica feio, né?! Imagina uma pessoa culta como você, um verdadeiro intelectual, sendo visto lendo "Harry Potter"?! Acaba com a sua imagem... (sóquenão). E pior ainda é quando esses "inquisidores" de fato conseguem fazer com que alguém deixe de ler alguma coisa por pura vergonha de ser visto com um livro "pouco nobre" nas mãos. Acho isso muito triste, de verdade. Enfim... trocando em miúdos, esse negócio de querer regular se o que os outros lêem é "digno" ou "indigno", pra mim, é coisa de quem não se garante quanto à própria erudição. #prontofalei
Então, gente, vamos pensar nisso... Vamos deixar cada um escolher o que quer ler, sem julgamentos, sem preconceitos... Porque preconceito, seja ele de que espécie for - inclusive o literário - é algo nocivo e que deve ser combatido...

E vamos abrir nossas cacholas também?? Que tal?? É aquela velha história: como você pode dizer que não gosta e rejeitar algo que nunca experimentou? Então, se você é do tipo de pessoa que só lê grandes clássicos de grandes autores (que em sua maioria já morreu), dá uma chance pra um best-sellerzinho de autor novo. E faça isso esperando, pura e simplesmente, se entreter. Seu cérebro não vai derreter por conta disso, juro! E aqueles que tem preconceitos contra os clássicos (porque a gente bem sabe que também existe esse outro lado da moeda, né?), deem uma chance também... Eu acho que muitas vezes o que acontece é que somos obrigados a ler, na escola, obras para as quais ainda não estamos preparados, para as quais ainda não temos maturidade intelectual... E isso pode mesmo acabar criando uma aversão em certas pessoas. No meu caso, por exemplo: tive que ler Dom Casmurro e O Alienista por volta dos 13 anos. Acho cedo... Na época achei tudo um saco, mas pegando pra ler agora, provavelmente já veria com outros olhos (só não tomei coragem pra pegar de novo, até hoje, esses dois especificamente porque ainda estou me curando do trauma, haha!).

No fim das contas, a questão é superar a barreira do preconceito e dar uma chance pro que é diferente daquilo que você está acostumado, que está fora da sua zona de conforto... Como dizia uma professora de literatura que eu tive, "saiam desse mundo da almofada cor-de-rosa"! ;) Vamos ler e deixar ser lido tudo aquilo que trouxer algum prazer pra quem escolher o livro (afinal, a leitura não-técnica/não-acadêmica não é mesmo pra isso? pra dar prazer a quem lê?), mas sem ter medo de experimentar o diferente... Porque vai que você descobre que gosta? :D Pronto, abriu seus horizontes, tem mais um gênero pra acrescentar à sua prateleira e, com isso, mais um milhão de possibilidades de novas leituras, de novos livros... Pra não ficar sempre lendo mais do mesmo apenas por falta de opção. Agora, se você já experimentou e nao gostou, ah, vai ser feliz lendo o que gosta e deixa os outros lerem o que eles gostam em paz também! ;)

* Também sobre os clássicos e como muitas vezes estes se tornaram clássicos, vale a pena dar uma olhada nesse vídeo da Vevs Valadares.

5 comentários:

  1. Seu post foi uma das melhores coisas que li recentemente. Primeiro pela honestidade [e eu concordo sobre a chatice de quem literatura só é válida se for clássica!], segundo pela forma como abordou [sem ignorância, sem querer apenas provocar uma polêmica, mas falar o que sente de verdade]

    Por muitas vezes tentei participar de grupos literários, e todas [TODAS] as vezes desisti. O ego das pessoas inflam arrogância. Eu adoro [ADORO! risos!] literatura pop [Um salve para Haruki Murakami e Nick Hornby] da mesma forma que adoro [AMO!] os clássicos [as pessoas de Pessoa são meus amores não secretos, assim como Cortázar, meu argentino predileto], mas é só falar numa rodinha literária que você gosta de literatura pop que as pessoas te medem de cima à baixo, com ar de nojinho, esquecendo que o "clássico"Salinger é o pai da literatura pop.

    Enfim, adorei seu post. E as pessoas deveriam ler mais, seja lá o que for. Tenho sim meu nojinho literário por algumas estantes [odeio gente que escreve como se soubesse o segredo do mundo, comercializando estupidez], mas ainda assim prefiro gente lendo o que foge do meu gosto particular do que não lendo nada!

    [Repito: adorei seu post!]

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    1. Uau... Obrigada, Tati! Fiquei lisongeada com esse super comentário, de verdade :))
      Não tinha como ter escrito de outra forma (sem sinceridade e não só querendo provocar polêmica) porque isso é uma coisa que sempre me incomodou e ficava meio que entalada na minha garganta, sabe? E aí, com o blog, acabei tendo a oportunidade de expressar o que eu sempre pensei sobre o assunto. Eu tenho pavor de qualquer tipo de preconceito e mais pavor ainda de gente que tenta, a qualquer custo, incutir suas próprias ideias preconceituosas na cabeça de outras pessoas. Por mim, vamos todos ser felizes, cada um lendo/assistindo/fazendo o que gosta e viva a diversidade! Afinal, não é isso que, de certa forma, torna o mundo um lugar mais interessante? Imagina como seria um mundo em que todo mundo só gostasse, lesse e fizesse as mesmas coisas? Meio chato, né...
      Mais uma vez obrigada pelo comentário! Seja muito bem-vinda (agora é benvinda, né? Não consigo me acostumar! :P) pra visitar o blog de novo :)
      Beijos!

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    2. De verdade: eu adoro ler blogs [e isso desde o começo deles], já conheci muita gente bacana por aqui [e que virou próxima, de viajar junto, beber junto] e já fazia tempo que eu não lia um blog com posts realmente legais. Enfim... estarei agora sempre por aqui, palpitando nos seus posts...
      Bjs, e sejamos benvindas [ficou horrível sem hífen! risos!]

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  2. Gostei muito do seu post! E te dou toda a razão, infelizmente muitas pessoas ainda precisam abrir a cabeça e uma pena que sempre existirá gente desse tipo, não só na literatura, mas em qualquer coisa nessa vida. :/

    Beijos, Mari.
    http://papersblood.blogspot.com.br/

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    1. Oi, Mari, obrigada! É uma pena MESMO e concordo com você... Por mais que a gente tente resgatar essas pobres almas do buraco negro do preconceito, provavelmente algumas delas vão preferir permanecer por lá em vez de vir em direção à luz... Mas eu não consigo desistir de tentar mostrar pra quem estiver disposto a refletir um pouco sobre o tema como esses preconceitos são idiotas e totalmente desnecessários. É como eu falei ali em cima pra Tati: viva a diversidade e vamos ser felizes respeitando as preferências alheias, cada um no seu quadrado :)
      Super obrigada pelo comentário e por seguir o blog! Volte sempre :))
      Beijos!

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