domingo, 27 de outubro de 2013

Brasil: país de leitores??

Ontem fui jantar no shopping com o namorado depois da faculdade e, enquanto esperava ele chegar pra encontrar comigo, resolvi entrar na Saraiva pra dar uma olhada nos livros. Folheei alguns, gostei de um deles e quis dar uma lida, mas a livraria em questão só tinha UM sofá à disposição dos leitores (provavelmente para nos obrigar a sentar no café que existe no interior da loja e consumir alguma coisa. ¬¬). E é claro que em 90% do tempo este sofá fica ocupado por gente que nem está lendo! Foi esse o caso ontem... Nos outros 10% do tempo, está ocupado por gente lendo de fato, mas nunca vai estar vago quando eu quero sentar nele pra ler. Lei de Murphy me persegue... Então, me restaram duas opções: ler em pé mesmo e ficar com o pescoço duro ou levar meu livrinho para ler na sessão infantil, que tem uns dois bancos maiores e costuma ter espaço pra sentar. É claro que eu optei pela segunda solução. hehe :)

Lá presenciei a seguinte cena: um menininho bem pequeno, que não devia ter mais que 6 anos de idade, chega correndo igual a um foguete, com os olhinhos brilhando, tipo "Livros! Livros! *-*" e vai direto até uma prateleira. A mãe aparece logo em seguida e dá uma chamada "Bernardo!! não sai de perto da gente! >:(". Até aí, muito justo. Ninguém quer perder o filho numa Mega-Store, né? Ok. Ela e o pai ficaram vendo algumas coisas ali do lado (acho que na sessão de papelaria, não tenho certeza),
enquanto isso, o pequeno Bernardo escolheu um livrinho e foi satisfeito até eles:

- Pai, pai, compra pra mim? :D - pediu ele com sua voz retumbante.
- *silêncio - Bernardo foi ignorado. O pai nem olhou pra ele.
- Hein, pai! Compra esse livro pra mim? :)
- *mais silêncio - o menino continuou sendo solenemente ignorado.
- PAAAAIIIEEE!!! Posso levar esse livr...?
- Shhh! Bernardo, não grita! E pára de perturbar seu pai. - a mãe interrompeu.
- Mãe, mas eu quero esse livrinho! Compra pra mim? *-*
- Não dá.
- Mas por favor, mãe, eu quero muito!!!
- Não, meu filho, bota esse livro de volta no lugar.
- Então eu vou ler ele ali...

Ele sentou perto de mim e começou a ler em voz alta. Uma fofura!! Achei super maduro da parte dele decidir ler o livro ali mesmo quando viu que não ia dar pra levar. A maioria das crianças iria chorar, fazer um escândalo, se jogar no chão (bom, nunca presenciei isso da parte de crianças em relação a livros, mas ok)... E ele aceitou resignado o fato de que não voltaria para casa com o livro e sentou pra ler. Até aí, nada muito anormal da parte dos pais... Talvez eles realmente estivessem curtos de grana e não desse MESMO pra comprar o livro naquele momento. Embora eu ache que dar livros a uma criança não seja um gasto, e sim um investimento (principalmente quando é a própria criança que pede!), nunca se sabe como estão as finanças alheias, né... Enfim. O que me chocou, foi o que aconteceu a seguir.

Bernardinho lia alegremente o livro, com uma voz tão forte que era impossível me manter concentrada na minha leitura, mas primeiro que eu não podia reclamar, afinal, aquele espaço era dele, né? Eu que invadi... E, segundo, eu já tinha sido cativada mesmo por aquele pequeno leitor, então

- Vamos, Bernardo.
- Peraí, mãe.
- Não, filho. Mamãe já tinha te falado pra botar o livro no lugar, não foi?
- Mas eu quero ler...
- Vamos, Bernardo. Guarda o livro, já falei duas vezes. - o tom foi ficando mais grave.
- Mas eu quero leeeerrrr!!! Por favor, deixa eu terminar de ler o livro! :(

Nesse momento, o pai interveio com a seguinte frase, que me deixou absolutamente perplexa:

- Vamos lá nas Lojas Americanas, eu compro um jogo pra você! :)

Jesuuuuusssss!!!!! A CRIANÇA QUERIA UM LIVRO! UM LIVRO!!! E o sujeito resolve barganhar em troca de brinquedos!! O que se passa na mente dessas pessoas?? Convenhamos: se ele tinha dinheiro pra comprar um jogo, muito provavelmente teria pra comprar o livro. Então por que, na vida, negar o livro ao menino? Claro que criança tem que brincar, é ótimo dar brinquedos de presente aos filhos, é importante para o desenvolvimento deles e tudo mais... Mas ler também é importante, gente!!
fingi que lia enquanto, na verdade, prestava atenção nele (juro que não sou stalker de criancinhas!! hahah). Gente, quando tiver um filho, quero que ele seja assim! Mas voltando ao foco... Lá estava ele, contente lendo seu livrinho. Mas a alegria não durou muito. Mal ele tinha começado, quando chegam os pais:

Talvez aqueles pais tenham achado que ler "Thomas, a Locomotiva" não fosse acrescentar nada ao menino, intelectualmente. Mas, se for esse o caso, estão muito enganados. Primeiro que seria excelente pra ele ganhar vocabulário. Segundo que, aparentemente, ele estava em fase de alfabetização e seria perfeito se familiarizar com a grafia das palavras de uma maneira agradável e lúdica. E terceiro: é importante criar o hábito da leitura desde cedo. Se a criança já tem gosto pela coisa, por que tentar abafar isso?? Só vai ser pior mais tarde, quando ele tiver que ler livros pra escola e achar tudo um saco. Aí quero ver esses pais arrancando os cabelos porque o adolescente Bernardo se recusa a ler "O Guarani" e a prova é depois de amanhã.

Fico pensando que, provavelmente, os pais do Bernardo não gostam de ler. Assim, acham estranho o filho se interessar por algo "tão chato" (na opinião deles) e não levam a sério seu gosto pela leitura, achando que dar um brinquedo faz muito mais sentido. Me parece que pais não-leitores criam filhos não-leitores. Desse jeito nós nunca seremos um "país de leitores", como o governo quer achar. Triste.
 
Juro que na hora me deu vontade de abraçar o pequeno Bernardo e comprar o livro pra ele. Mas seria muito estranho, então me contive em ficar quieta no meu canto, com meu livro e minha indignação.
Confesso que me lembrou um pouco aquele anúncio com o menino da chicória.

* Originalmente postado em 24/10/11 *

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